quinta-feira, 28 de abril de 2011

A dádiva de amar...



AMAR, VERBO INTRANSITIVO.


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d'água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar junto chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino - o amor.
Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, se entregue; vocês foram feitos um pro outro.
Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.
Se você conseguir, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado...
Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...
Se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...
Se você tiver a certeza que vai ver à outra envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela...
Se você preferir morrer, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. “É uma dádiva”.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Ou às vezes encontram e, por não prestarem atenção estes sinais deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. “É o livre-arbítrio”.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.
(Carlos Drumond de Andrade)

Eu tenho a felicidade e o privilégio de sentir isso. Tenho o privilégio de ter alguém pra ser o meu primeiro e o meu último pensamento do dia. O privilégio de querer envelhecer ao lado dessa pessoa, de me apaixonar todos os dias mais e mais, de querer ser melhor a cada dia, de sentir as pernas bambas a cada beijo demorado...
Sabe, me sinto mesmo privilegiada! Privilegiada por ter a oportunidade de amar, de poder amar, de ter alguém tão lindo com quem dividir a vida, alguém com quem quero passar o resto dos meus dias. Digam, não é um privilegio?! Enquanto tantos reclamam de dividir a vida com alguém eu me sinto agraciada por ter encontrado a “tampa da minha laranja”, meu outro lado, meu melhor lado. Claro que temos nossos problemas, claro que não é fácil todos os dias, em todos os momentos, somos seres humanos com toda uma carga de experiências, vivências, mágoas, dificuldades, defeitos, coisas mal resolvidas e medos, mas o mais legal disso tudo é que apesar de tudo somos melhores porque temos um ao outro, porque nos sentimos gratos com a presença um do outro, porque queremos estar juntos, e querer estar junto faz toda a diferença. Porque queremos vencer nossos medos e dificuldades. Porque queremos transformar “nossas linhas vermelhinhas em linhas azuis”. Porque existe um brilho único quando somos um. Porque temos a consciência de que juntos somos muito melhores do que separados, porque fazemos muito bem um ao outro e isso é tudo de bom!
É Drumond, você sabia das coisas! O melhor da vida é o amor! Por ele tudo vale muito a pena!
Um grande beijo e um excelente final de semana!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Meu papel de parede...

Ontem me dei conta na hora em que fui postar meu texto aqui que realmente tudo ao nosso redor roda na sintonia em que vibramos. Procuramos de forma inconsciente ou não tudo que tem a ver com nosso momento, com nossos sentimentos e nossa forma de sentir. Falo isso por conta do papel de parede que escolhi pra cá. Na hora que escolhi não parei pra pensar no porque da escolha, mas ontem me vi olhando pra ele encantada com as cores, com a imagem, com a paz que ele me passava. E é exatamente assim que ando me sentindo no momento, como uma praia, com uma imensidão de sentimentos meio bucólicos, sem muitas ondas, com um céu sem aquelas nuvens fofas e azuis, sem um grande sol amarelo, sem muita gente por perto, mais introspectiva, menos faladeira, mais pra dentro e bem menos pra fora, sem saber ainda delimitar aonde os sentimentos terminam e aonde entra a razão, mais lilás suave do que qualquer outra cor, mais outono do que inverno ou verão, mais areia fresca e firme de pisar do que mole e fofa, mais brisa suave do que vento forte, mais horizonte não delimitado do que tudo bem limitado. Mais caminhar ao final do dia do que correr ao sol.
Enfim, se esse papel de parede fosse real você me veria sentadinha nessa areia olhando o mar e refletindo, absorvendo, sentindo. Ou dando uma longa caminhada de mãos dadas com meu amor.
Como vocês podem perceber meu blog está em pura sintonia comigo. Ufa! Ainda bem! (risos)
Beijo grande.









terça-feira, 26 de abril de 2011

Minha época de renascimento...


Ganhei de Páscoa um mapa astral feito pelo professor do meu namorado Tato Neves e desde ontem estou escutando; ele grava em cd pra se ouvir no conforto do seu lar (ou aonde você preferir), e a cada minuto me convenço mais e mais de que como uma grande amiga minha fala “o mapa é você, nua em pelo”. Ainda não cheguei nem na metade, pois a gravação toda devem ter umas seis horas por baixo e estou escutando com “parcimônia” até pra poder absorver todas as informações (risos).
Pois bem, apesar de o mapa se tratar de mim e eu já me fazer “companhia” há 35 anos é incrível como uma boa parte de mim eu não conheço, não me dou conta, não percebo. Incrível como somos complexos, cheios de meia-verdades, mascaras e mentiras que criamos pra nos enganar e nos proteger. Eu ouvia e pensava: Isso! Sou exatamente assim, mas isso eu não mostro nem pra mim mesma. E por quê?! Que medo é esse de sermos nós mesmos sem não nos importamos com o resto do mundo?! Que mundo é esse que criamos pra gente que nos faz colocar uma fantasia adequada todos os dias pela manhã?! Que mundo é esse que eu criei pra mim que faz com eu na grande maioria do tempo faça com que me olhe e não me veja?! Que faz com que eu não mostre o que eu trouxe comigo de longa data sem se importar com esse ou com aquele?!
Levei 35 anos e 11 meses pra sentir o que senti desde que o Tato começou a falar comigo. Ouvi coisas engraçadas sobre mim, coisas conhecidas, coisas sofridas, algumas coisas (bem poucas) nunca tinha ouvido, outras tantas meu “namorado-estrela” já me fala há algum tempo e eu até acho que algumas fichas já têm caído, mas como uma boa taurina sou lenta, devagar, quase parando... e como um touro de 35 anos já estou cansada de carregar tantas “roupas” adequadas. Ainda bem!! Já estava na hora D. Aline!
Bem, ainda falta um bom pedaço pra ouvir, sentir, refletir, aprender, deixar pra trás o que não for mais necessário, mudar o que precisa de mudança e... continuar a jornada.
E, como tudo tem um porque nessa vida, foi uma boa época pra sentir tudo isso. Páscoa – época de renascimento.
Ainda bem que existem Tato’s e Geci’s em nossas vidas pra nos mostrar que estamos aqui pra aprender e evoluir! Algumas vezes pelo amor, outras pela dor, mas o importante é entender que não estamos aqui a passeio. Não mesmo!
Beijo grande!

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Devagar...


A segunda chegou, mas eu não cheguei à segunda, ainda estou no domingo de tardinha.
O tempo pra mim anda diferente, às vezes muito mais rápido do que eu, as vezes muito mais lendo do que eu, com sorte as vezes estamos no mesmo ritmo e sintonia.
Hoje estou assim muito mais lenda do que 60 segundos por minuto, talvez 80 segundos por minuto.
Deve ser o fato de hoje ser segunda e pra mim elas sempre vem acompanhadas da sensação de “mais uma semana sem você”... sensação essa que por mais que eu seja, ou deveria ser, uma pessoa adulta, sempre persiste em me perseguir. Será que é porque quando você está junto os meus sorrisos tem companhia, porque você me abraça a noite toda, porque você tem bom humor, porque você me olha, me cheira, me agarra, me beija, me sente, me faz companhia pra tudo que eu faço, porque falamos a mesma língua, nos entendemos com o olhar, rimos até doer a barriga, porque a sua mão é sempre quente e está sempre perto quando eu preciso, porque você adora tudo que eu cozinho, porque eu adoro ouvir qualquer coisa que você fala... enfim porque do seu lado tudo é melhor!
Mas a segunda chegou é e melhor eu entrar no ritmo dela e contar que o tempo vai correr pra sexta chegar e eu poder ver o seu sorriso novamente.
Já estou com saudades...





segunda-feira, 18 de abril de 2011

Avec-elégance...

"Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.
Nas pessoas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas. Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante, você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que você teve que se arrebentar para o fazer...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
" É elegante o silêncio, diante de uma rejeição.. "
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
É elegante a gentileza. Atitudes gentis falam mais que mil imagens...
...Abrir a porta para alguém...é muito elegante .
...Dar o lugar para alguém sentar...é muito elegante...
...Sorrir, sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
...Oferecer ajuda...é muito elegante...
...Olhar nos olhos, ao conversar é essencialmente elegante...
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso " lado brucutu", que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os desafetos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura!"

Martha Medeiros.





quarta-feira, 13 de abril de 2011

Da gente que eu gosto...



"Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderam de sua própria realidade.
Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.
Eu gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, da gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom animo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.
Eu gosto da gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir. Da gente que tem tato. Gosto da gente que possui sentido de justiça. A estes chamo de meus amigos.
Eu gosto da gente que sabe a importância da alegria e a pratica. Da gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor. Da gente que nunca deixa de ser animada.
Eu gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão.
Eu gosto de gente fiel e persistente, que não descansa quando se trata de alcançar objetivos e idéias.
Eu gosto da gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo. De gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los. De gente que luta contra adversidades. Gosto de gente que busca soluções.
Eu gosto da gente que pensa e medita internamente. De gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereotipo social, nem como se apresentam. De gente que não julga, nem deixa que outros julguem. Gosta de gente que tem personalidade.
Eu gosto da gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.
A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.
Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida… já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber reviver.
A glória não consiste em não cair nunca, mas em levantar-se todas as vezes que seja necessário.
E ISSO É ALGO QUE MUITO POUCA GENTE TEM O PRIVILEGIO DE PODER EXPERIMENTAR.
Bem aventurados aqueles que já conseguiram receber com a mesma naturalidade o ganhar e o perder, o acerto e o erro, o triunfo e a derrota…"


Mario Benedetti.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A gente se acostuma...


"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma."


Marina Colasanti.





quarta-feira, 6 de abril de 2011

Doar-se completamente...



Alguns dias atrás conversando com um amigo de faculdade saiu à pergunta – Aline, você sabe o significado da palavra perdoar? – Acho que sim; é quando verdadeiramente desculpamos alguém por alguma coisa que foi feita e nos machucou, não é isso?! – É isso que o senso comum pensa, mas o significado etimológico da palavra é DOAR COMPLETAMENTE.
Isso me marcou tão profundamente que a alguns dias essa frase tem martelado na minha cabeça e no meu coração. Doar completamente. Nunca tinha olhado essa palavra em seu real significado, nunca tinha pensado por este prisma, nunca me passou pela cabeça que na verdade não importa se o outro te perdoa, mas e você que tem que doar-se inteiramente para aquele ato de se desculpar por algo que foi feito, ou vivido. Lindo isso, de uma profundidade, de uma sinceridade, mas também de uma dificuldade. Algo extremamente intimo, profundo e em alguns momentos tão difícil.
Fiquei pensando em quantas pessoas não fazem uso do “eu te perdoo” indiscriminadamente, em quantas vezes eu mesma usei desse verbo na certeza que estava fazendo um bem ao outro quando na verdade o bem é interno e bem mais profundo. Mexe com os sentimentos mais escondidos, com nosso lado mais puro, mais amoroso. Afinal doar-se completamente não é algo que se faz assim com um piscar de olhos, com um simples verbalizar. Doar-se completamente se faz com o mais puro amor, de você pro que a de mais sublime... dentro de você e não lá fora.
Como ouvi da minha irmã agora a pouco “talvez seja por isso que perdoar seja divino e não humano”.
Doar-se completamente. Amei isso! E espero de coração chegar a este lugar aonde o mais puro amor mora.
Beijos.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Uma lição...

"Quando voltei ao Brasil, depois de residir doze anos no Japão, me incumbi da difícil missão de transmitir o que mais me impressionou do povo Japonês: kokoro.
Kokoro ou Shin significa coração-mente-essência.
Como educar pessoas a ter sensibilidade suficiente para sair de si mesmas, de suas necessidades pessoais e se colocar à serviço e disposição do grupo, das outras pessoas, da natureza ilimitada?
Outra palavra é gaman: aguentar, suportar. Educação para ser capaz de suportar dificuldades e superá-las. Assim, os eventos de 11 de março, no Nordeste japonês, surpreenderam o mundo de duas maneiras. A primeira pela violência do tsunami e dos vários terremotos, bem como dos perigos de radiação das usinas nucleares de Fukushima. A segunda pela disciplina, ordem, dignidade, paciência, honra e respeito de todas as vítimas. Filas de pessoas passando baldes cheios e vazios, de uma piscina para os banheiros. Nos abrigos, a surpresa das repórteres norte americanas: ninguém queria tirar vantagem sobre ninguém. Compartilhavam cobertas, alimentos, dores, saudades, preocupações, massagens. Cada qual se mantinha em sua área. As crianças não faziam algazarra, não corriam e gritavam, mas se mantinham no espaço que a família havia reservado. Não furaram as filas para assistência médica – quantas pessoas necessitando de remédios perdidos- mas esperaram sua vez também para receber água, usar o telefone, receber atenção médica, alimentos, roupas e escalda pés singelos, com pouquíssima água. Compartilharam também do resfriado, da falta de água para higiene pessoal e coletiva, da fome, da tristeza, da dor, das perdas de verduras, leite, da morte. Nos supermercados lotados e esvaziados de alimentos, não houve saques. Houve a resignação da tragédia e o agradecimento pelo pouco que recebiam. Ensinamento de Buda, hoje enraizado na cultura e chamado de kansha no kokoro: coração de gratidão.
Sumimasen é outra palavra chave. Desculpe, sinto muito, com licença. Por vezes me parecia que as pessoas pediam desculpas por viver. Desculpe causar preocupação, desculpe incomodar, desculpe precisar falar com você, ou tocar à sua porta. Desculpe pela minha dor, pelo minhas lágrimas, pela minha passagem, pela preocupação que estamos causando ao mundo. Sumimasem.
Quando temos humildade e respeito pensamos nos outros, nos seus sentimentos, necessidades. Quando cuidamos da vida como um todo, somos cuidadas e respeitadas. O inverso não é verdadeiro: se pensar primeiro em mim e só cuidar de mim, perderei. Cada um de nós, cada uma de nós é o todo manifesto.
Acompanhando as transmissões na TV e na Internet pude pressentir a atenção e cuidado com quem estaria assistindo: mostrar a realidade, sem ofender, sem estarrecer, sem causar pânico. As vítimas encontradas, vivas ou mortas eram gentilmente cobertas pelos grupos de resgate e delicadamente transportadas – quer para as tendas do exército, que serviam de hospital, quer para as ambulâncias, helicópteros, barcos, que os levariam a hospitais.
Análise da situação por especialistas, informações incessantes a toda população pelos oficiais do governo e a noção bem estabelecida de que “somos um só povo e um só país”.
Telefonei várias vezes aos templos por onde passei e recebi telefonemas. Diziam-me do exagero das notícias internacionais, da confiança nas soluções que seriam encontradas e todos me pediram que não cancelasse nossa viagem em Julho próximo.
Aprendemos com essa tragédia o que Buda ensinou há dois mil e quinhentos anos: a vida é transitória, nada é seguro neste mundo, tudo pode ser destruído em um instante e reconstruído novamente.
Reafirmando a Lei da Causalidade podemos perceber como tudo está interligado e que nós humanos não somos e jamais seremos capazes de salvar a Terra. O planeta tem seu próprio movimento e vida. Estamos na superfície, na casquinha mais fina. Os movimentos das placas tectônicas não tem a ver com sentimentos humanos, com divindades, vinganças ou castigos. O que podemos fazer é cuidar da pequena camada produtiva, da água, do solo e do ar que respiramos. E isso já é uma tarefa e tanto.
Aprendemos com o povo japonês que a solidariedade leva à ordem, que a paciência leva à tranquilidade e que o sofrimento compartilhado leva à reconstrução.
Esse exemplo de solidariedade, de bravura, dignidade, de humildade, de respeito aos vivos e aos mortos ficará impresso em todos que acompanharam os eventos que se seguiram a 11 de março.
Minhas preces, meus respeitos, minha ternura e minha imensa tristeza em testemunhar tanto sofrimento e tanta dor de um povo que aprendi a amar e respeitar.
Havia pessoas suas conhecidas na tragédia?, me perguntaram. E só posso dizer : todas. Todas eram e são pessoas de meu conhecimento. Com elas aprendi a orar, a ter fé, paciência, persistência. Aprendi a respeitar meus ancestrais e a linhagem de Budas.
Mãos em prece (gassho) "


Monja Coen