quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Justiça cega.




Dia da coluna da Marthinha no Jornal ZH e como sempre corro pra ler e pra blogar pra vocês. hoje foi sobre um tema que vira e mexe tenho falado aqui. Primeiro foi com a história do celular do Gu, que segundo o cara que roubou "achado não é roubado", a total inversão de valores, depois escrevi novamente quando falei das chuvas e de tudo que deveria ser lavado neste País. Estas e outra vezes que escrevi sobre os valores tão invertidos e trocados nos dias de hoje.
Coisas que sentimos todos os dias. Na estrada mesmo, na ida de Parati pra Sampa, o que mais vimos foram carros furando as filas e andando no acostamento. Detalhe, em geral atrás do carro da polícia.Nunca vi tanta veracidade na célebre frase " a justiça é cega"!! Queria que esta frase tivesse o sentido da justiça. O sentido real e originário dela. De fazer o justo sem olhar pra quem, rico ou pobre, negro ou branco. Mas, o que mais vemos hoje em dia é uma justiça, um povo, cego em todo sentido da palavra! 
É... parece que honestidade, educação, ética e cidadania são valores que pelo jeito estão em baixa e esquecidos. Põe baixa nisso!! Tão baixo que estamos pisando em cima e seguindo em frente.
E Marthinha, eu também ando me sentindo uma extraterrestre!!
Aí vai o texto pra vocês refletirem.
Um beijo.


"A lei de cada um.



Wesley Ramos é um menino de 11 anos que mora nos arredores de Sorocaba, SP, e que foi homenageado semana passada pela prefeitura da sua cidade por ter devolvido uma bolsa à dona e tudo o que nela havia, documentos e dinheiro inclusive. Foram concedidas honrarias públicas para o menino honesto.
A cada vez que isso é destacado no jornal, me sinto uma extraterrestre. Viver num país onde os atos que deveriam ser corriqueiros viram manchete é um sintoma da nossa deterioração moral. No jornalismo, existe uma máxima que diz que notícia não é um cachorro morder uma pessoa, e sim uma pessoa morder um cachorro. Wesley, que devolveu o que não era seu, mordeu um cachorro.
O comum tornou-se incomum porque nos habituamos a tomar atitudes desconectadas da ordem social. Na hora de bravatear, somos todos imaculados, os reis do gogó, que salivam de prazer ao apontar as falhas dos outros, mas, na hora de seguir a lei dos homens, refutamos a coletividade e tratamos de seguir nossa própria lei. E a lei de cada um é a lei de ninguém.
A estrada, o lugar mais superpovoado do verão, oferece um demonstrativo desse “cada um por si” que leva a catástrofes. A faixa amarela contínua serve para os outros, não para o super-herói do volante que enxerga mais longe e melhor do que os engenheiros de trânsito. Quantas doses de álcool se pode beber antes de dirigir? Para a lei geral estabelecida, nenhuma. Para a lei de cada um, o limite é decisão pessoal.
Choramos pelos mortos que ficam soterrados nas encostas por causa da chuva, mas dai-nos um terreninho em cima do morro e com vista pro mar, Senhor, e daremos um jeito de conseguir um alvará irregular.
A corrupção é generalizada. Na hora de espinafrar os Arrudas que surgem na tevê, somos todos anjos, mas quando surge uma oportunidade de facilitar o nosso lado, de encurtar caminhos, mesmo agindo incorretamente, não existe lei, não existe ética, existe apenas uma oportunidade que não se pode desperdiçar, coisa pequena, que mal há?
Honestidade e ética dependem unicamente do ponto de vista do cidadão: quando ele enxerga o outro fazendo mal, condena. Quando é ele que age mal, o mal deixa de existir, é apenas uma contingência. Essa miopia se corrige como?
Ninguém está imune a erros, mas seria um alívio se nossos erros se mantivessem na esfera particular. Quando agimos como cidadãos responsáveis pelo bem público, o erro de caso pensado deveria ser um crime. Aliás, é crime. Mas somos hipócritas demais e há muito que invertemos os princípios básicos da cidadania. Wesley foi homenageado por não ser mais um a inventar a sua própria lei, e sim por ainda acreditar na lei de todos."

Martha Medeiros.


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